terça-feira, setembro 29, 2009

OlimPiadas - Rio 2016

Incomoda a campanha feita pelas organizações Globo para trazer a Olimpíada de 2016 para o Rio de Janeiro. Quem acompanha as matérias e programas destinados ao tema concluirá que não existe problema algum na realização do evento no Brasil. Mais do que não atrapalhar, os Jogos revolucionariam o país de uma forma definitiva. Durante essa semana, na qual será definida a cidade sede, a coisa tem ficado pior. Está impossível assistir Sportv.

Para o canal, ser contra a candidatura do Rio é ir contra a pátria. O argumento de que os gastos para a realização dos Jogos serão abusivos parece ofender Os profissionais bradam que a Olimpíada 2016 será o grande salto de desenvolvimento social/esportivo do Brasil, pois irá gerar empregos e estímulo para a prática de outras modalidades de esporte. Outro argumento que incomoda é o de que megaeventos tupiniquins são rotas de desvio de dinheiro. Lá vem os ufanistas dizendo que isso é pessimismo e que Rio2016 será a chance de fiscalizarmos e exercermos nossa função na democracia. Parecem esquecer do Pan 2007, que torrou um caminhão de dinheiro na construção de estrutras hoje abandonadas.

A falta de critério jornalístico também enoja. Quando compararm Rio com Chicago ou Tóquio, criticam a falta de apoio popular dos americanos e japoneses (se esquecendo que a cidade brasileira foi criticada pelo COI pela falta de engajamento da população). Na comparação com Madri (que lidera o índice de apoio popular), citam a greve do setor hoteleiro da região (deixando passar o fato de que o Rio não tem estrutura turística suficiente para a realização de megaeventos).

Ainda pior são as reações já armadas. Se não formos escolhidos, o COI é racista e a América do Sul deverá criar seu próprio comitê olímpico. Básico espírito brasileiro. Aliás, fico até imaginando como Orlando Silva, Lula e Eduardo Paes vão se comportar caso o Rio de Janeiro não for escolhido. Vai ser barraco na hora, sem dúvidas.

Não sei o que será pior: a vergonha de não sermos escolhidos ou a de sermos.

terça-feira, setembro 15, 2009

Pega na mentira

Matéria publicada no jornal laboratório do Mackenzie, feita por mim e pela Bruna Prado.

Pega na mentira!
Por que mentir é tão aceito em nossa sociedade?

Um dos assuntos da vez na Formula 1 é o escândalo envolvendo Nelsinho Piquet, Flavio Briatore e a equipe Renault. O crime? Forjaram uma batida. Essencialmente, mentiram. Polêmicas à parte, a prática não é rara na sociedade. Basta refletir sobre o estereótipo completamente aceito e digerido que nossos políticos carregam. A prática da mentira acabou banalizada. Vemos esse processo como algo aceitável e comum.
"Certa vez, precisava ir embora da faculdade antes do término da aula para eu não perder a minha carona, porque eu não gosto de andar de ônibus. Perguntei para o professor se ele poderia me dar presença porque eu ia ter uma entrevista de emprego", conta Karina Braido, 21 anos. "Normal!", completa.
De fato, a mentira é extremamente presente em nosso universo. “Sou gerente de promoções de um grande portal, que estava organizando uma promoção em que duas pessoas iriam ganhar uma viagem para o Rio de Janeiro. Burlei as regras e escolhi duas amigas minhas para serem as ‘vencedoras’. Durante a viagem, tive que fingir durante todo o tempo que não conhecia as meninas.’’, relata L.C. (que não quis se identificar), 20 anos. “Muitas vezes, os adolescentes descobrem que a mentira é aceita em certas ocasiões e pode até livrá-los de responsabilidade, facilitando a sua aceitação com a turma.”, conta a doutora Telma Leila de Camargo e Silva, psicóloga do Hospital São Luiz.
Ainda segundo Telma, a mentira pode surgir por diversas razões: “A insegurança ou a baixa de auto-estima (quando pretendemos fazer passar uma imagem de nós próprios melhor do que a que verdadeiramente acreditamos), o receio das conseqüências (quando tememos que a verdade traga conseqüências negativas), por regalias (se mentir traz ganhos, vale a pena mentir, uma vez que ficamos em vantagem em relação aos que dizem a verdade), por razões externas (quando o exterior nos pressiona ou por motivos de autoridade superior ou por co-ação), ou por razões patológicas”, relata. Milena Freitas, 21 anos, costuma evitar visitas indesejadas fazendo uso de mentiras. “Uma amiga minha tem o costume de me fazer visitas inesperadas. Quando vejo que é ela na porta de casa, deixo-a tocando a campainha até desistir e ir embora. Depois invento que estava em outro lugar’’, conta.
Tem quem vá além. Francisco Martinez, 23 anos, colocou o namoro em risco com suas mentiras: “Era aniversário da minha namorada, mas nesse mesmo dia eu tinha comprado convite para uma rave. Falei para ela que tinha que ir embora cedo da festa dela, pois ia ter que abrir a padaria do meu pai muito cedo. O plano não deu muito certo. Um dia depois, ela descobriu tudo”, relata.
De acordo com a psicologia, a mentira faz parte do nosso contexto social. No entanto, não é “saudável” fazer dela a base fundamental das nossas relações. “A mentira existe ao longo de toda a escala patológica. A saúde mental só é compatível com a verdade. De nada serve querer acreditar que o nosso familiar não faleceu quando na realidade isso não é a verdade. De nada serve acreditarmos que somos capazes voar se na realidade não temos asas.”, conclui Telma Leila.