terça-feira, agosto 21, 2007
sexta-feira, agosto 17, 2007
Perfil
Fomos a um restaurante vegetariano. Lá, uma senhora de chapéu nos chamou a atenção. Um rosto europeu, coberto pelo cabelo do Alice Cooper. No corpo, um surrado moleton. E um chapéu de guia de safári. Pensamos se tratar de alguma turista australiana perdida na selva paulistana. Depois de uma série de especulações sobre a moça, resolvemos começar a entrevista. Foi quando ouvimos uma voz meio baixa:
-Boa a comida daqui né?! Boa, bonita e barata...
As conclusões do papo iniciado ali:
Irene Ribeiro é um símbolo da periferia do usual.
“Sou o Amyr Klink da terra”. É dessa forma que Irene Ribeiro responde quando perguntada sobre sua identidade. Aliás, apenas Irene (ou Irene Que Vai Pelas Beiras das Ribeiras), pois essa excêntrica senhora não gosta de “fazer parte de nenhum clã”... Foi por esse motivo que fugiu dos pais, no final da década de 80.
Nativa de São Paulo, Irene morava com a família num bairro de classe-média alta, em Alto de Pinheiros. Por causa de uma oportunidade de emprego, os pais decidiram se mudar para Embú das Artes, no interior paulista, onde morariam em um condomínio fechado. A idéia aterrorizou Irene, que resolveu aceitar o convite de um amigo para morar na casa dele, em Ilhabela. Lá, porém, foi expulsa pela mulher do colega e passou a morar em um carro, um Chevette. Depois de passar seis meses no “Chevettão”, como ela gosta de chamar, resolveu ir para Embú, morar com a família. Não que lhe agrade, mas ela não tem escolha. Irene vive na mesma casa desde 1987. Perdeu o pai para o câncer. O irmão se mudou para uma casa na frente da sua. A irmã e a mãe continuam juntas de Irene. A mãe tinha uma escola de artesanato e a irmã se dedica a defender os direitos dos animais. Irene mostra que tem talento – ou amor – para lidar com animais também: é Veganiana, apesar de não gostar do rótulo.
“Acho que sou. Não como carne de nenhum tipo, não como ovos, lacticínios, mel, couro, pele, seda, lã... Mas não gosto de assumir um rótulo do tipo: ‘Nunca mais vou colocar nada disso no corpo’, pois não sabemos o que será de nós amanhã”. A prática começou logo nos primeiros anos de vida. O corpo de Irene rejeitava qualquer tipo de comida de origem animal. Só conseguia comer papinha crua. Hoje, segue a dieta por questões de ética e saúde. E diz que nem sente falta. “A cozinha vegan é boa, bonita e barata. Nada se repete”. Sua proximidade com os animais fica ainda mais clara quando uma abelha se aproxima: “Olha, a abelhinha sente que não comemos carne e vem ser amiga”.
Irene gostaria de voltar a morar em São Paulo. A vida em Embú não lhe satisfaz. O condomínio em que vive é cercado por muros e fiações elétricas. Quase não há vida animal livre. “É um zoológico de homens, cães e gatos. Todos presos, confinados em seus espaços”. O desejo de voltar é tamanho que a senhora vem para a Capital quatro dias por semana, participar de um grupo que discute as idéia de Gurdjieff, um filósofo espiritual russo. O grupo se encontra em uma padaria nos arredores da Avenida Paulista. Gurdjieff faz uso de um mito de escala cósmica para encontrar o caminho das verdades. Não é a primeira experiência de Irene com o intuito de se encontrar. No final da década de 70, ela se submeteu à terapia Junguiana, bastante relacionada com os sonhos.
“Tenho um ânus só! Já viu gente com mais, meu filho?”, depois de uma gargalhada, ela completa: “Não sei minha idade não... Não estava lá quando nasci! Não sei se fui clonada! Chuta aí!”. Para Irene, idade não importa. Assim como o sobrenome. Não vale a pena guardar tanta informação inútil. É por isso que ela queimou a maioria das fotos de sua experiência no Chevette em Ilhabela. Depois de um tempo, as fotos se acumularam na gaveta e perderam o sentido. Ela decidiu, então, atear fogo nas recordações. “Não é que eu não gosto de registros. É que alguns são inúteis e acabam te comprometendo”. Por essa razão, Irene não permitiu que a fotografassem. “Além disso, tenho trauma com foto. Eu tinha uma babá portuguesa, chamada Lolita. Meus pais haviam adquirido uma câmera de filmar. Toda vez que eles iam me filmar, Lolita me mandava ficar rígida, para tirar foto. Por isso, sempre que falam em tirar uma foto minha, eu travo toda”.
Consegui uma foto de costas.
É possível perceber o esoterismo dessa senhora. Muitas vezes, incompreendido. O pessoal do restaurante se diverte com a presença de Irene. Olham como se fosse uma louca. Talvez seja. Fato é que, indo pelas Beiras das Ribeiras, Irene sempre busca um caminho alternativo e pouco usual para chegar à verdade. Talvez consiga, antes de qualquer um de nós.
quinta-feira, agosto 16, 2007
Doutor Arnaldo
Foto: Homemdodedo, Wikipedia.
Obs.: Não espero nenhum comentário sobre o texto, sinceramente... Sei que não é estimulante. Mas o blog e a curiosidade são meus!
segunda-feira, agosto 13, 2007
O romântico, o cético e o realista
Acontecimentos que deixam marcas profundas e, talvez, eternas. Geralmente ocorrem quando menos se espera, quando nos encontramos despreparados, desatentos. Nossa reação é de incredulidade, de raiva, de descontrole. Essas situações sempre nos ensinam bastante, mas é preciso saber o que tirar de proveitoso delas.
Um amigo recentemente passou por uma dessas provas da vida. Sobreviveu, mas não apenas com ferimentos leves.
Era um daqueles românticos, que acreditam na perfeição do amor e na eternidade de um relacionamento baseado apenas na inércia da paixão. Namorou por muito tempo com aquela que, acreditava ele, era o amor de sua vida. Sua alma gêmea. Depois de uns anos, o namoro virou um moribundo, como o boxeador que tropeça em suas próprias pernas, apenas esperando pelo golpe que o nocauteará. E o golpe veio. A relação terminou e meu compadre vagou, sem rumo, por um bom tempo.
O soco doeu. A dor cresceu. E o romântico tornou-se cético.
Um cético amoroso, que acha que o amor não serve pra nada. Que tem convicção de que amar é coisa passageira. É dúvida, não certeza. Um chato que não tem mais coragem de entregar-se porque não confia mais nas verdades do coração. Na realidade, ele só tem uma certeza: a de que ser descrente é ser racional. E é onde comete seu maior erro. Sentimento não é ciência exata, nem pro bem, nem pro mal. Não é possível cefalizar o inexplicável mundo das emoções. Ceticismo não é realismo.
Realista é o seguinte: tudo exige esforço e dedicação. Não vivemos em um mundo no qual podemos desconsiderar forças como o atrito e a resistência do ar. A força da inércia um dia vai acabar. É sempre preciso continuar aplicando uma força externa. Não há movimento retilíneo uniforme nas humanidades...