sexta-feira, março 27, 2009

Assessorias de Imprensa

A ocupação de cargos de assessor de imprensa só foi “permitida” para jornalistas em 1980, quando Washington Mello – um jornalista que havia atuado em assessorias – assumiu a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e incentivou a prática. De lá pra cá, a função se multiplicou, invadindo nichos antes completamente fechados (como, por exemplo, as redações de jornais). No Estado do Ceará, para se ter idéia, 60% dos profissionais formados em jornalismo atuavam em assessorias no ano de 1997.
O nascimento da função, no entanto, vem de muito antes dessa migração de jornalistas das redações para as assessorias. Em 1909, o então presidente Nilo Peçanha cria um setor específico para cuidar da transmissão de publicações, informação e propaganda do governo. Durante a década de 30, torna-se política de Estado o controle e disseminação de informações por meios de comunicação de massa. Diversos órgãos de controle foram criados nos anos seguintes, tais como o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC) e o Departamento Nacional da Propaganda (DNP). A filtragem jornalística era branda até o início da Ditadura Militar.
É compreensível o interesse político no controle informacional. Acredita-se que, manuseando a informação, cria-se a verdade. Fazendo uso da credibilidade que os meios de comunicação em massa possuem, os políticos aprenderam desde cedo a lidar com seu eleitorado através da mídia.
No setor privado, a assessoria de imprensa apareceu no Brasil com a Volkswagen, com a contratação do jornalista Alaor Gomes, chamado para formar uma organização privada para atuar com relacionamento planejado. O setor foi nomeado de “Seção de Imprensa”, incluído na Divisão de Relações Públicas. Alaor juntou-se, posteriormente, a Reginaldo Finotti (também jornalista) e fundou a Unipress, primeira assessoria de imprensa independente do país.
A assessoria de imprensa privada foi logo percebida como uma ponte sólida para agir sobre a agenda pública, informar e obter uma imagem positiva. Era marketing com credibilidade jornalística. A prática rapidamente popularizou-se, tamanha eficácia e inteligência da mesma.
A polêmica desse assunto é grande. Há muita gente gabaritada que defende a tese de que um jornalista não pode exercer a função de assessor, uma vez que trairia os preceitos básicos da imprensa – afinal, o assessor de imprensa atende uma entidade maior, que é seu contratante. Em Portugal, por exemplo, um jornalista que atua em assessorias é expulso do sindicato. A outra mão da assessoria é a facilidade criada para as redações de jornais, que passaram a ter, em seus próprios membros, as fontes. Jornalistas entendem jornalistas e, exatamente por essa simbiose, cria-se uma relação de benefício (quase) total para ambas as partes.
A sociedade tem a ganhar com essa relação. Basta que os jornalistas de redação não rejeitem o manual básico de apuração jornalística. O assessor não é mais – há muito tempo – um mero emissor de releases. Hoje, a assessoria de imprensa representa mais uma engrenagem da máquina produtora e executora de informações e interpretações do macroambiente.

quinta-feira, março 19, 2009

Piratas do Vale do Silício


É daqueles filmes que provam que, muito mais do que efeitos especiais, o que vale no cinema é uma boa história, um bom roteiro. "Piratas do Vale do Silício" conta a história do início da revolução digital, com enfoque nos dois maiores expoentes desse nicho: Apple, de Steve Jobs e Microsoft, de Bill Gates. É notável que a produção contou com baixo orçamento. O filme foi feito para a TV. Mas isso não importa.

De uma maneira fácil, "Piratas do Vale do Silício" situa o espectador no contexto onde nasceu o que controla nossa vida hoje. Contextualizados com a gênese, é mais fácil de entendermos o mundo atual.

Mais do que gênios da informática ou empresários brilhantes, Jobs e Gates eram visionários. A grande virada de ambos foi perceber que tudo estava prestes a mudar. Preparados, conseguiram criar os impérios de hoje. Como Bill Gates define na película, "é preciso criar uma necessidade para o seu produto". Ele, como poucos, conseguiu.

terça-feira, março 17, 2009

Sala de espera


Estou na sala de espera da dentista, postando do meu celular. Nao que eu fosse fazer algo melhor em casa, mas a idéia de perder grande parte da tarde em uma gélida sala desalmada, cercado por leitura fútil, me incomoda um pouco... Pelo menos posso aproveitar as maravilhas tecnológicas do nosso mundo moderno pra registrar, em texto e imagem, o meu martírio... Salve a conectividade! O mundo digital derrubou barreiras gigantescas. Se posso usá-lo nesse propósito tão tolo, é inimaginável o numero de possibilidades que essa ferramenta nos pode fornecer se pensarmos um pouco mais a respeito... É nossa obrigação, enquanto seres dominantes. Por ora, chega: a doutora finalmente me chamou pra consulta... Deixo a reflexão para você, leitor.

sexta-feira, março 13, 2009

Jornalismo S.A.

Ronaldo foi o melhor jogador que eu já vi atuar.
Achei melhor escolher essa sentença pra iniciar o post para não soar azedo, mascarado. Tiro meu chapéu para o dentuço carioca que, merecidamente, conquistou o apelido de Fenômeno. Mas já passou do ponto.
Claro que o gol que ele fez contra o Palmeiras (marca direito, Marcão!) foi importante. Afinal, o maior artilheiro da história das Copas do Mundo voltou a balançar as redes após mais um difícil renascimento. Talvez o gol tenha sido maior que o jogo em si, sei lá... Mas a cobertura da mídia foi patética. Cléber Machado deixou de narrar a peleja para descrever as gotas de suor que escorriam pela (enorme) bochecha de Ronaldo.
E o circo não parou por aí. Só se fala no Fenômeno.
É importante ressaltar que o mundo do ludopédio não parou nessa semana. O Palmeiras não conseguiu ganhar, novamente. O São Paulo reencontrou o bom futebol. O Santos foi, mais uma vez, medíocre (excessão feita ao jovem Neimar, que é promissor). Vasco, Botafogo, Colo-Colo, Liverpool, todos os times do mundo também jogaram - assim como Ronaldo.
Só que o Gordão vende jornal, atraí audiência. Essa superexposição parece comprovar o quão comercial é o modelo que o jornalismo segue atualmente. Essencialmente, a cobertura da volta do Fenômeno é apelativa e sensacionalista e, ao contrário do que Galvões Buenos da vida bradam, não é uma reverência ao talento e garra do mesmo.
Vale lembrar que, com tanta coisa de mais importante acontecendo no planeta, o Jornal Nacional reservou mais de dois minutos de sua programação para uma exclusiva ao vivo com Ronaldo, na segunda após o dérbi paulistano. Do jeito que a coisa anda, se Ronaldinho se machucar, a Rede Globo vai mandá-lo fazer fisioterapia na casa do Big Brother.

quinta-feira, março 12, 2009

Backstreet's Back

A proposta era desenvolver uma pauta qualquer sobre cultura. Eu e a minha dupla, Bruna, resolvemos falar dos Backstreet Boys. Assim que pensamos na pauta sobre os fãs do BSB, imaginamos que eles teriam mudado desde o fim da década de 90, auge da banda. Não foi o que encontramos, no entanto. Aqueles que eram fanáticos insistem no sentimento – e nas atitudes. Quando percebemos esse fato, mudamos o rumo da matéria.
Recrutamos os entrevistados em comunidades do orkut e fã-clubes oficiais da banda. Muitas pessoas retornaram nosso contato, querendo demonstrar o amor pelos BSB. Conseguimos colher muita informação e muitas histórias interessantes. Todas as entrevistas (cerca de 20) foram feitas através de e-mails.
Quando julgamos ter material suficiente para montar a matéria, sentamos e traçamos a linha do texto. Elaboramos quais temas e entrevistas iríamos utilizar e só juntamos as peças do quebra-cabeça.

Não pare de brincar com meu coração!
Por Bruna Prado e Guilherme Odri

“Hoje mesmo passei numa loja e comprei um esmalte preto. Todo mundo do meu serviço ficou me zoando, mas tenho que ir ao show a caráter. Afinal, o meu Backstreet Boy favorito é o AJ”. Quem conta o caso é Leandro Juvêncio do Reis, 21 anos. Em pouco tempo de conversa, percebemos que certas coisas o tempo não cura. Alguns sentimentos permanecem congelados, inerentes à passagem dos anos, apenas esperando para que qualquer catalisador os faça aquecer e aflorar novamente. Paixões infantis são mais do que descobertas. São influências.
Os Backstreet Boys ilustraram a geração dos anos 90. Foi o grupo de maior apelo pop da última década do século XX. Segundo o Guinness Book, a banda lidera o ranking de vendas entre boybands no mundo, tendo vendido mais de 120 milhões de CDs no planeta. A história dos BSB começa em 1993, quando Lou Pearlman, um empreendedor da área de aviação dos Estados Unidos, recrutou cinco garotos para serem agenciados por ele. Em 1994, a banda assinou contrato com a gravadora Jive Records e estourou no planeta inteiro em 1996, com o hit “Quit Playin’ Games (With My Heart)”. No ano de 1997, a consagração foi atingida com o álbum “Backstreet’s Back”.
No Brasil, os Backstreet Boys arrasaram. Não havia uma pessoa de 10 a 20 anos que não conhecesse a banda. As danças eram imitadas, as meninas brigavam pra “namorar” determinado integrante. “Cada uma das minhas amigas gostava de um diferente, então a gente levava os pôsteres pra escola e estendia no chão na hora do recreio e ficávamos babando!”, relata Tatiana Barbosa Del Nero, 21 anos (fã desde os 10). Fanatismo puro. “Nunca fui fã de ninguém. Não entendia como era ser 'fã' de alguém. Em janeiro de 97, ouvi a primeira canção dos caras. Três semanas depois, encontrei uma revista falando sobre eles. Acho que foi 'amor à primeira lida'”, diz a jornalista Milene Peres, 23 anos (dos quais 11 contaminados com a febre BSB). Em 2000, na primeira vinda da banda ao Brasil, mais de 45 mil pessoas se amontoaram na frente do hotel para conseguir ver os ídolos de perto.

Ou eles, ou eu!
Já teve gente que quase estragou o namoro por causa dos olhares e passos de dança dos “garotos da rua de trás”. E engana-se quem pensa que se trata de uma garota. “Me lembro de um mico que paguei uma vez no shopping center Norte. Era a pré-venda do ‘Millennium’ e eu fui com a minha namorada comprar o CD (ela nunca gostou de BSB). Chegando na loja, vi que tinha um livrinho com fotos e textos do álbum para deixar de divulgação na loja. Fiquei desesperado para conseguir o livrinho. Pedi para minha namorada chegar em um vendedor e pedir o livro de presente, dizendo que ela era muito fã. Ela se negou. Eu queria tanto o livrinho que pedi para uma moça que estava na loja falar com eles. A menina comentou: ‘Mas você está com sua namorada’. E eu respondi: ‘Não, ela é minha prima’. Final da história: Deixei minha namorada no shopping e fui na Pizza Hut com a menina. Ganhei o livrinho, e tenho ele até hoje”, conta André Cruz, de 20 anos. E a namorada? “Mais de semana sem falar comigo”, relata. Quem se importa?! O que vale é a souvenir dos BSB.
Lembra-se do Leandro, do começo da nossa história? Ele pintou o quarto de azul e preto, as cores de um álbum da banda. “Na época que os BSB deram tempo, fiquei com receio de ser o fim. Pra que a poeira não baixasse, resolvi pintar o meu quarto de preto e azul e escrever no teto ‘Black and Blue’! Colei um monte de pôsteres na parede, no teto, no armário. Todos que entravam no meu quarto não acreditavam que era o quarto de um homem”, diverte-se.

Mais que paixão: inspiração
Nem só de comédia se faz o fanatismo. Os ídolos, como dissemos, exercem influência sobre os fãs. De vez em quando, essa influência é positiva. Rejane Silva de Oliveira, 24 anos, resolveu aprender inglês por causa dos Backstreet Boys. “Eles inspiraram o meu amor e o das minhas amigas pela música. Formamos até uma banda, batizada de ‘Sweet Girls’! Eles também nos incentivaram a aprender inglês. Em 1999, entramos no curso de inglês juntas só para poder aprender a cantar as músicas e entender tudo o que eles falavam”, conta.
Patricia Matos, 23 anos, foi mais fundo: moldou sua carreira acadêmica e profissional a partir dos Backstreet Boys. “Sou estudante de Rádio e TV e, ano passado, produzi um documentário sobre a primeira vinda deles ao Brasil. Eu queria mostrar a visão das fãs. Além disso, eu desenvolvo uma pesquisa acadêmica sobre o mesmo tema. Costumo dizer que a pesquisa é a minha auto-análise, pois o objetivo é tentar descobrir porque as fãs agem de determinada forma. Também trabalho com produção fonográfica e sou musicista. Meu amor por eles foi fundamental na escolha da minha profissão e dos rumos da minha carreira”, relata.
Os Backstreet Boys voltaram ao Brasil em março. Todos os entrevistados estiveram lá.